A pequena Ilha de Robben (Ilha das Focas) fica a cerca de 6,5 milhas náuticas da Cidade do Cabo e é Património da Humanidade desde 1999.
Este pequeno pedaço de terra com 5400 metros de comprimento e pouco mais de 2500 de largura foi descoberta por Bartolomeu Dias em 1488 e, desde então, tem sido habitado e utilizado para várias funções. Já serviu para desterrar leprosos, perigosos assassinos e, no final do último século, para desterrar e manter isolados muitos daqueles que lutavam contra o apartheid. Foi nessa altura que se tornou mundialmente famosa, já que durante longos anos aqui esteve preso aquele que viria a ser o primeiro presidente sul-africano negro, Nelson Mandela.
Para poder criar este sistema prisional foram construídos, desde o século XVII, vários edifícios mais ou menos seguros, já que se os prisioneiros pensassem em fugir da prisão os tubarões em redor deste pequeno pedaço de terra fariam desistir os mais corajosos. Foram deslocadas várias guarnições militares e foi assim que os coelhos bravos europeus chegaram à ilha, pela mão dos holandeses e ingleses que para ali foram viver.
Ainda hoje a grande atracção da ilha é a prisão, que anualmente recebe milhares de visitantes e que aproveitam também para conhecer a importante fauna local.
Esta ilha sempre foi um importante lugar de reprodução de aves. São mais de 130 as espécies que aqui nidificam, algumas das quais em risco de extinção – é o caso do pinguim-africano, que mantém importantes colónias nesta ilha, onde a sua reprodução é um sucesso. Existem também muitas outras espécies de répteis, anfíbios e mesmo mamíferos bem adaptados, uns que aqui chegaram sozinhos, outros pela mão dos humanos. As águas em redor não ficam atrás, em termos de diversidade, pois são extremamente ricas em peixes, dos maiores ao mais pequenos, encontrando-se aqui inclusive os mais temidos de todos eles, os grandes tubarões. Existe ainda uma grande diversidade de mamíferos marinhos.
Os coelhos sempre conviveram com a presença humana, ao ponto de muitos destes animais se deixarem apanhar à mão - apesar de muitos deles serem capturados para alimentação das guarnições. Sem se saber exactamente como, apesar de haver algumas pistas, nos últimos anos o equilíbrio que durante centenas de anos existiu foi quebrado e os coelhos reproduziram-se de forma incontrolável, levando a que todo o equilíbrio da ilha fosse posto em causa.
Primeiro, os territórios das aves que aqui nidificam foram invadidas pelos coelhos, deixando as mesmas de se reproduzir. Depois, foram os outros herbívoros que deixaram de ter alimentos, e que, ou deixaram de se reproduzir, ou viram as suas crias ficarem fracas e muitas delas morrerem. O mesmo aconteceu com os répteis e anfíbios, que por toda a ilha começaram a desaparecer. Por fim, até as instalações da prisão da ilha começaram a ser literalmente atacadas pelos coelhos, roendo tudo o que seja de madeira, borracha, plástico e outros materiais mais frágeis. Até os próprios alicerces da prisão ficaram em risco, tantas são as tocas de coelho que foram sendo feitas nos últimos anos debaixo da terra.
Agora a situação atingiu o limite e os responsáveis da ilha vão ter de fazer um abate controlado de parte dos coelhos da ilha. As previsões mais optimistas apontam para 10000 animais a roer e escavar tudo o que encontram.
Um dos argumentos dos responsáveis pelo abate é que, no próximo verão, a água disponível na ilha não vai chegar para matar a sede a tantos coelhos e a morte de muitos animais pode também vir a ser um grande problema sanitário, a juntar aos outros já provocados pelos coelhos.
O chamado «abate humano dos coelhos» vai começar no dia 1 dos próximo mês e prolonga-se até ao dia 16. Durante esse período a ilha vai estar literalmente fechada e as únicas pessoas presentes vão ser os técnicos que vão participar nestes trabalhos, representantes de algumas ONGs de defesa dos animais e alguns funcionários que vão proceder a trabalhos de limpeza e manutenção na ilha.
O abate dos animais vai, dentro do possível, ser feito com recurso a injecção letal, primeiros nos animais que se deixarem apanhar à mão e, numa segunda fase, vão ser montadas armadilhas para capturar mais alguns milhares de coelhos para serem abatidos da mesma forma. As autoridades esperam assim conseguir manter uma população de coelhos controlável e após estes trabalhos vão implementar um processo de esterilização que vai ajudar a manter o equilíbrio entre recursos naturais e as populações de coelhos.
Um processo similar já foi levado a efeito no ano de 2006, nessa altura contra uma excessiva população de gatos selvagens cuja alimentação básica eram precisamente os coelhos. Este parece ter sido o motivo que levou ao descontrolo do número de coelhos, ou pelo menos é esse o mais apontado dentre vários, como as condições climatéricas favoráveis à reprodução dos coelhos, por exemplo.((•)) Ouça este post
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