Antes de sua domesticação, há milhares de anos, o cão vivia em matilha (grupo), na qual tinha obrigações a cumprir, como proteger os companheiros. Desde que começou a conviver com os humanos, passou a considerar os tutores como integrantes da matilha. Por isso, se arrisca para defendê-los e fica alerta aos perigos que possam ameaçá-los.
Em geral, o cão está sempre disposto a acompanhá-los a um passeio. Não fala mal de ninguém e não se importa com a aparência que eles têm. Às vezes, é tão unido aos tutores que, se um deles adoece, o bicho fica juntinho ao pé da cama, esperando que melhore. São características como essa que fazem dele um companheirão.
Saudade
Depois que o cachorro desenvolve muito carinho pelos tutores, não consegue permanecer muito tempo longe deles. Há casos em que até fica doente se é separado dos humanos que o criaram. E, se por algum motivo tem de viver em outra família, pode não suportar ficar distante da família antiga e, apesar de não ser comum, pode chegar a morrer de saudade.
A amizade entre o cão e as pessoas é muito antiga. Acredita-se que há cerca de 400 mil anos, o ancestral do ser humano, chamado Homo erectus, caçava filhotes e fêmeas de lobo. No entanto, como nem todos os bichos eram comidos, os que sobreviviam eram criados pelo hominídeo. Assim, os dois começaram a conviver.
Esse lobo é considerado o cão primitivo, ancestral dos cachorros domésticos. Com o tempo, o ser humano passou a comer outros tipos de alimento e a confiança entre os dois cresceu. Aos poucos, o bicho foi domesticado e passou a ser utilizado para defender humanos de perigos como invasores, e como companhia na caça. Hoje, é tido como integrante da família por muitas pessoas.
Akita espera dez anos pelo melhor amigo
Hachiko era especial, não por ter nascido no palácio japonês, mas por ser companheirão. A história desse cão da raça akita, que se tornou o melhor amigo de um homem, virou o filme Sempre ao seu lado, que estreia dia 25.
Ainda filhote, Hachi foi encontrado pelo professor Parker na estação de trem. Sem saber o que fazer, o homem o levou para casa. Colocou cartazes na rua para encontrar o responsável, mas ninguém o procurou.
O cão virou integrante da família. Todos os dias, acompanhava Parker à estação. No fim da tarde, voltava para esperá-lo. Os dois se amavam. Um dia, o professor não voltou mais.
O cão não sabia por que ele tinha desaparecido. Não entenderia se um humano lhe dissesse que seu tutor morreu. Continuou a esperá-lo na esperança de que voltasse.
De verdade
A história de Hachiko é verdadeira, mas aconteceu em época e lugar diferentes. O cachorro nasceu no início da década de 1920, no Japão. Vivia em Tóquio com o professor universitário Hidesaburo Ueno, e o acompanhava de casa até a Estação de Trem de Shibuya.
Hidesaburo morreu em 1924. E, apesar de Hachi ter sido doado a outra pessoa, voltava à estação para esperar pelo amigo. E foi assim durante dez anos, até que morreu em 1935, transformando-se em lenda.
No Japão, há três estátuas de bronze do akita. Uma delas fica no lugar em que o cão aguardava a volta do professor, a saída Hachi, da Estação de Trem de Shibuya. Esse cão é um dos heróis nacionais. Sua história já havia virado filme, em 1987, além de livro infantil.
Histórias de lealdade se repetem por aqui
Histórias semelhantes à de Hachiko acontecem em todo mundo, inclusive por aqui. Mariana Oneda Déa, 10 anos, de São Bernardo, sabe que pode confiar na amiga de quatro patas. Toda manhã, quando vai à escola, é acompanhada pela cadela Xuxa até o ponto de ônibus. “Ela me espera subir e volta pra casa. Quando vou a pé para qualquer lugar, também me segue. Eu me sinto segura.”
A vira-lata chegou na casa de Mari por acaso. Há cerca de dois anos, foi atropelada e abandonada na estrada. Bastante machucada, andou até ser encontrada pela mãe da garota, que é protetora de animais. Ganhou ração, água, cuidados e uma família. “Nunca tive uma cachorra tão bondosa. Ela é carinhosa e vive atrás da gente”, afirma Mariana.
Amigonas
Há três meses Caroline Santos Guariento, 10, de Santo André, acorda com muita disposição para curtir a pit bull Pitt. “Deixo de brincar com minhas amigas para ficar com ela. Cuido e dou muita atenção. Somos companheironas”, conta.
Assim como Xuxa, Pitt tem uma história de maus-tratos. Foi abandonada e amarrada a um poste, onde ficou por dois dias sem comida e água, embaixo de sol e chuva. Um vizinho avisou a mãe de Carol, que é veterinária. Assim, também ganhou uma casa em que recebe muito amor. “Quando o responsável não ensina o cão a ser agressivo, ele se transforma no melhor amigo de qualquer pessoa”, acredita.
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